Em depoimento, influenciadora se defende de questionamentos e lembra senadores que a legalização do problemático mercado partiu do próprio Legislativo
A CPI das Apostas Esportivas, também conhecida como CPI das Bets, instalada em 2024 e presidida pelo senador Iran Gonçalves, com relatoria da senadora Soraia Thronicke (PL-MS), visa investigar a crescente influência dos jogos de apostas online no orçamento familiar, possíveis elos com o crime organizado e o papel de influenciadores na promoção dessas plataformas. A comissão atua em um cenário peculiar: embora as apostas esportivas tenham sido legalizadas no Brasil pela Lei 13.756 de 2018, foi a Lei 14.790, sancionada no final de 2023, que efetivamente regulamentou e abriu as portas para a massiva operação das casas de apostas no país. Agora, diante dos impactos sociais observados, o mesmo Legislativo que chancelou essa expansão busca, através da CPI e de outros projetos, formas de impor maiores restrições e controles.
Amparada por um habeas corpus do STF, Virginia optou por responder à maioria das perguntas, recusando-se apenas a detalhar valores quando questionada pela senadora Soraia Thronicke: “Eu vou, eu me reservo no direito de ficar calada.”
No cerne de seu depoimento, ao ser indagada pelo senador Isalci Lucas sobre a existência de cláusulas contratuais que a remunerassem com base nas perdas financeiras de seus seguidores — o chamado “cachê da desgraça alheia” — Virginia negou veementemente: “Eu fechei o meu contrato com Esporte da Sorte e esse valor que eles me pagaram, se eu dobrasse o lucro dele, eu receberia 30% a mais da empresa. Em momento algum sobre perdas dos meus seguidores. Nunca teve sobre isso no contrato,” detalhou, afirmando que seus contratos são de valor fixo.
Virginia também desvinculou sua fortuna das bets, citando o faturamento de R$ 750 milhões de sua empresa de cosméticos em 2024. “Eu não fiquei milionária com Bet, não,” garantiu.
Interpelando diretamente a comissão sobre a recente legalização e a subsequente tentativa de regulamentação, Virginia provocou: “Mas uma coisa, senadora, que eu acho que vocês estavam comentando aí, eu quero dar minha opinião sobre: se realmente faz tão mal pra população, proíbe tudo. Por que que tá regulamentando? Proíbe tudo, que acaba com tudo.” Essa fala ecoou o debate sobre a responsabilidade do Estado em permitir e agora tentar controlar um mercado com potencial para gerar tanto receita quanto problemas sociais. Ela ressaltou que sempre atuou com empresas regulamentadas: “Eu nunca aceitei fazer publicidade para casas de aposta que não estão regulamentadas.”
Questionada pela senadora Soraia Thronicke sobre o uso de contas “demo” em suas publicidades, Virginia negou o uso de mecanismos para simular ganhos irreais. Sobre o envolvimento de familiares nos vídeos, como sua mãe, Margarete, e o esposo, Zé Felipe, explicou que, quando jogam juntos para as publicações, utilizam a conta dela.
Um momento de atrito ocorreu quando a relatora, senadora Soraia Thronicke (PL-MS), confrontou Virginia com um vídeo publicitário antigo. A influenciadora respondeu: “Senadora, você tá pegando vídeo lá de 2022, pô. O negócio nem tinha as coisas.” Após a senadora pedir respeito, Virginia se desculpou: “Quero pedir desculpa mais uma vez por ter estressado um pouco aqui. […] Na época não tinha essas coisas [exigências do CONAR].”
Ao final, Virginia Fonseca declarou que sairia “reflexiva”, mas reiterou a complexidade da situação contratual e a abrangência da publicidade de bets no país: “Vou pensar sobre […] mas assim, eu tenho contrato […] eu também gostaria que a senhora chamasse aqui todos os times de futebol, todos os eventos patrocinados […] O meu trabalho é publicidade.”
A sessão também foi marcada por longas intervenções de outros parlamentares. O senador Cleitinho (Republicanos-MG) criticou a “moral da classe política” para julgar a influenciadora. O senador Jorge Kajuru (PSB-GO) fez uma enfática defesa de Virginia, denunciando uma suposta tentativa de um assessor de influenciá-lo a atacar a depoente. O senador Eduardo Girão (NOVO-CE), ao expor dados sobre os impactos sociais das apostas, relembrou seu voto contrário à lei que expandiu o setor e direcionou críticas ao governo federal, declarando: “E esse governo, senador Isalci, governo Lula, é o responsável por essa tragédia humanitária, porque sempre disse defender os mais pobres […] e ele colocou as digitais dele nesse projeto que eu votei contra.” O senador Carlos Portinho (PL-RJ) também debateu a necessidade de maior rigor na publicidade.
Contexto Legislativo: A Votação da Lei das Apostas
A legalização e regulamentação das apostas esportivas de quota fixa, que permitiu a expansão do mercado investigado pela CPI, foi consolidada pela Lei 14.790/2023. A aprovação da lei no Senado não foi consensual. Enquanto uma maioria de parlamentares votou favoravelmente à medida, visando a arrecadação de impostos e a formalização de uma atividade já existente, senadores como Eduardo Girão (NOVO-CE) e Carlos Portinho (PL-RJ), ambos ativos na oitiva de Virginia Fonseca, registraram publicamente seus votos contrários durante a tramitação da matéria, alertando para os potenciais riscos sociais e o aumento do vício em jogos. Os registros detalhados dessas votações e dos debates podem ser consultados nos arquivos oficiais do Senado Federal.
A CPI das Bets prossegue com seus trabalhos, buscando aprimorar a legislação e entender as dinâmicas de um setor em franca expansão. O depoimento completo de Virginia Fonseca, realizado em 13 de maio de 2025, está disponível no canal oficial do Senado Federal no YouTube.
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